segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Almas Perfumadas Por Carlos Drummond de Andrade

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda.
De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança
gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça.
Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra
escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente
desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são
invisíveis.
Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o saltopelo chinelo.
Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra
isso.
Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo
em que a gente acordava e encontra

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